segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O cara no assunto no treinamento de árbitros!!!

Professor Camello conversou com o Voz do Apito e apontou algumas situações interessantes sobre a parte física do árbitro de futebol.
O ser humano, na sua preocupação com o corpo, tem de estar alerta para o fato de que saúde e longevidade devem vir acompanhadas de qualidade de vida, tanto no presente como no futuro. A atividade física é uma aliada imprescindível para alcançar uma boa forma física e sua prática deve ser desenvolvida de uma forma prazerosa e contínua ao longo de toda a vida.

A elaboração de qualquer plano de treinamento físico destinado para o árbitro de futebol, requer por parte de quem elabora este plano, um conhecimento profundo do grupo para o qual este treinamento é dirigido e de suas características fundamentais. Por isso o Voz do Apito procurou uma das maiores autoridades no assunto, que gentilmente nos atendeu e deu dicas super importantes sobre alguns quesitos básicos da preparação física em todos os seus aspectos.

Paulo Camello é instrutor físico da Cbf e possui vasta experiência nesta área. O professor foi o responsável pela preparação física dos árbitros Brasileiros tanto na Copa de 2006, quanto na Copa de 2010. Além disso, Camello supervisiona os testes físicos tanto da Cbf, quanto da Fifa aqui no Brasil, sendo um dos profissionais mais respeitados no ramo. Em entrevista exclusiva ao Voz do Apito, Paulo afirmou que até a escolha do tênis que o árbitro de futebol faz, para o seu treinamento, é de super importância para o resultado final na pista de prova.

Voz do Apito: Ao longo dos anos o árbitro de futebol foi ficando cada vez mais exigido fisicamente e essa tendência fez com que ele virasse um atleta. Você acha o atual teste físico da Fifa o ideal para o tipo de atividade que o árbitro desenvolve no campo de jogo?
Prof. Paulo Camello: - Realmente os árbitros tiveram que tomar uma nova consciência com respeito ao treinamento físico, após as mudanças dos testes físicos impostos pela FIFA a partir de 2005. E após estas alterações, toda a forma de treinamento e preparação, tiveram mudanças acentuadas. Eu diria, que ainda não como um atleta, devido a outros pontos que se relacionam a cobrança dos atletas, apesar dos árbitros mais conscientes estarem próximos disso. Não obstante, precisaram tomar um nova ordenação de treinamento e continuidade, para conseguirem alcançar o estágio atual.

Sobre o teste em si, existem algumas controvérsias relativas a serem ideais, ou não, para as necessidades dos árbitros em campo. Mas o mais importante, é que se ele aí está, deve ser seguido, e os árbitros devem adotar uma metodologia de treinamento que busque deixá-los em condições de cumprir inicialmente, os parâmetros mínimos necessários para sua aprovação, assim como, de estar preparado para as partidas, o que é mais importante. E passado o estágio inicial, procurar desenvolver-se para os parâmetros máximos exigidos. Então, é um processo adaptativo que já vem ocorrendo há alguns anos desenvolvidos pela CBF, deve ser mantido, e iniciado já na base de formação dos árbitros, para que se adaptem progressivamente, estando cientes das necessidades que deverão ter, até alcançar os quadros nacionais e internacionais.

Voz do Apito: Qual o tipo de lesão que mais afeta o árbitro de futebol?
Prof. Paulo Camello: Bem, não tenho dados estatísticos para uma afirmação precisa, mas as lesões mais comuns são os estiramentos musculares, especialmente dos músculos posteriores da coxa, adutores da coxa e da panturrilha. Nas articulações, as entorses de tornozelo e em menor escala do joelho.

Voz do Apito: Recentemente o ex-árbitro Fifa do Rio de Janeiro Hilton Moutinho rompeu o tendão, o que lhe fez ficar fora dos gramados por tempo indeterminado. Mesmo com fisioterapia intensa e um mega tratamento, até hoje o árbitro não conseguiu voltar. O que causa esse tipo de lesão?
Prof. Paulo Camello: - Na verdade, cada caso deve ser avaliado separadamente, pois muitas coisas podem provocar determinado tipo de lesão. Os rompimentos de tendão são lesões graves, e que podem estar relacionadas a vários fatores externos, e especialmente individuais, como estado físico geral do árbitro, seu nível de treinamento, peso corporal, ou até predisposição para este tipo de lesão. Então, não podemos afirmar que exista uma ligação direta entre este tipo de lesão e os testes físicos, ou a atividade atual dos árbitros. Toda recuperação deste nível é demorada (lembremos os casos do Ronaldo Fenômeno e recentemente do Adriano, hoje no Corinthians), que demandam uma força e perseverança muito grande por parte de quem se lesionou, como caso do Moutinho, que conheço, e que já está bem melhor.

Voz do Apito: A idade do árbitro pesa sob a ótica médica do tratamento de alguma lesão ou fratura?
Prof. Paulo Camello: Fisiologicamente nós sabemos, que a idade cronológica tem uma relação nos processos de treinamento e recuperação de lesionamentos, mas acredito, que o mais importante é o estado de saúde que esteja apresentando o árbitro, e especialmente, o que chamamos de individualidade biológica, que determina individualmente a capacidade de cada pessoa de responder a um mesmo treinamento, ou a um tratamento médico de qualquer nível.

Voz do Apito: Existe algum tênis apropriado para o treinamento físico do árbitro de futebol?
Prof. Paulo Camelo: - Assim como qualquer outra atividade desportiva, o calçado deverá ser adequado a sua atividade fim. Dependendo do local de treinamento, o tênis ou chuteira, deverão ser escolhidos para que o treinamento possa transcorrer sem maiores problemas, e não interfira negativamente em articulações, e ou, musculaturas envolvidas na atividade, inclusive dependendo das condições do tempo e do piso onde haverá a atividade.

Voz do Apito: Alguns árbitros fazem massagens relaxantes antes e depois dos jogos. Isso de alguma forma é válido?
Prof. Paulo Camello: - A utilização de massagens antes e pós jogos, é uma escolha individual, que normalmente visa tirar um pouco da tensão que precede o início das partidas, esta primeira principalmente, não deverá ser profunda nem prolongada, devido a necessidade do árbitro de estar com a musculatura bem ativa para participação no jogo. Já a pós jogo, terá uma característica de recuperação, e aí sim poderá ser mais demorada e profunda, ajudando no processo de recuperação.

Voz do Apito: Qual é o tipo de treinamento ideal para o árbitro de futebol que quer passar no teste físico atual da Fifa?
Prof. Paulo Camello: - Sobre treinamento para o árbitro, temos vários caminhos que podemos seguir, o que podemos afirmar, é que de forma geral, este deverá buscar trabalhos de características intervaladas, que promovam alternâncias de ritmos de corrida em alta intensidade, com períodos de recuperação relativamente reduzidos para uma nova retomada no ritmo intenso. Logicamente, esta é uma das formas de trabalho que podem ser feitas, além dos trabalhos de reforço muscular, muito importantes para fortalecimento da musculatura geral dos árbitros, assim como visando a profilaxia para se evitar possibilidade de lesionamentos. A inclusão de trabalhos de agilidade e coordenação também são muito importantes na montagem e desenvolvimento das atividades dos árbitros, já que é onde apresentam maior grau de dificuldade de atuação, não somente correr em pista. Na realidade, o árbitro deverá procurar a instrução de um professor de Ed. Física, que tenha conhecimento das necessidades atuais do árbitro de futebol, para que ele possa direcionar os melhores caminhos para o alcance dos seus objetivos, estar preparado para as partidas e para passar nos testes físicos.

Voz do Apito: Até que ponto a alimentação influencia no desenvolvimento físico na carreira do árbitro?
Prof. Paulo Camello: - Sem dúvida, a alimentação é um ponto extremamente importante para uma boa eficiência nos treinamentos de qualquer desportista, ou pessoa comum. Afinal, o alimento é o combustível para fazer a máquina do corpo funcionar adequadamente. No caso dos desportistas especialmente, ajudará na reposição das reservas gastas nos treinamentos e jogos, assim como, se feita de forma adequada, evitará os problemas comuns de oscilação e excesso de peso, tão comum nos árbitros e nas pessoas não desportistas também. O equilíbrio entre alimentação e treinamento, será de grande valia para ajudar a tornar a vida atlética dos árbitros mais eficiente e prolongada.

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